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domingo, 4 de outubro de 2009

Historia do Pentecostalismo no Brasil



O pentecostalismo foi introduzido no Brasil no início de nosso século e, desde entao, apresentou um crescimento contínuo tanto numérica como geograficamente. A partir da década de 60, época que ocorre e desenvolvimento da industrializacao e intenso exodo rural que acrretam importantes modificacoes na vida brasileira, percebe-se uma aceleracao no crescimento do pentecostalismo e o aparecimento de numerosas denomnacoes. Nessa década ocorre, também, a eclosao do chamado «movimento de renovacao espritual» ou carismático, dentro das igrejas do Protestantismo de Missao que mesclava doutrinas e práticas do pentecostalismo aos conteúdos doutrinários tradicionais. (2)
Esse movimento nao foi aceito pacificamente e numerosos expurgos ocorreram dentro das diferentes igrejas. Com isto novas denominacoies nasceram e foram adqurindo características própias (Bittencourt Filho, 1993).


Esse fenomeno também ocorreu dentro da igreja católica. (3) Além do pentecostalismo e dos movimentos carismáticos, tem-se ainda um terceiro, que vem apresentando intenso crescimento e está sendo denominado de neopentecostalismo, pentecostalismo autonomo ou agencias de cura divina. (4) Esse movimento se caracteriza, em especial, pela «comercializacao» de bens simbólicos.



O crescimento desses movimentos foi dimensionado pelo Censo Institucional Evangélico, este realizou importe pesquisa na regiao metropolitana do Rio de Janeiro e apesar de ser circunscrito a aquela regiao, é indicativo da situacao no país. O senso constatou que, a partir de 1989 a cada día surgía uma nova Igreja na regiao pesquisada. (5) Esse fenomeno ven chamando atencao de pesquisadores de várias áreas da ciencia, tais como: história, sociologia, antropologia e ciencias da religiao. O crescimento do pentecostalismo, do movimento carismático e, em especial, do pentecostalismo autonomo, tem recebido explicacoes diversas, tem sido objeto de atencao de grupos de políticos e é olhado com «reserva» pelas igrejas tidas como tradicionais.



A problemática da pesquisa



O campo religioso brasileiro sempre foi extremadamente rico, diversificado e pouco estudado (6). Poucos autores dedicaram atencao ao estudo da religiosidade brasileira; generalizacoes empre foram feitas e aceitas practicamente sem reservas.


O Brasil é, tradicionalmente, descrito como um país católico e os estudos realizados sobre a religiosidade afro-brasileira e indígena eram vistos como temática de menor importancia, como prática de pequenos grupos, coisa de ignorantes, e até mesmo eran encarado como «caso para policia». (7)


A «religiosidade popular» foi uma espécie de temática «exótica» que encantava os pesquisadores europeus. (8). somente a partir da década de 60, que coincide como a avanco dos estudios históricos e sociológicos é que tem-se uma maior atencao e um maior número de obras sobre o assunto. Dentro desse quadro verifica-se que os estudos sobre protestantismo no Brasil nao forma uma excecao á regra, temos poucas obras específicas realizadas a partir de pesquisas decampo e como critério academico.



A partir dos anos 80, quando a temática «pentecostalismo» passou a ser assunto frequente na imprensa, tem-se uma aumento da «cuiosidade» científica para com o campo religioso brasileiro, em especial para com o chamado pentecostalismo autonomo. entretanto quando vamos analisar muitas das publicacoes que estao surgindo, nos deparamos com um problema extremamente sério, que sao os critérios de diferenciacao utilizados. Para alguns, o «pentecostalismo» seria uma espécie de «membros desviantes» das igrejas da Reforma; para outros (em geral protestantes) eles nem deveriam ser considerados protestantes (ainda que as molduras eclesiásticas e teológicas dos pentecostais sejam protestantes).


O aparecimento de diferentes denominacoes em curto espaco de tempo, e o crescimento de muitas delas ainda vem complicar mais o quadro. Debido a isso, para a compreensao do fenomeno é necessário que se tenha critérios seguros que permitam que se esteleca diferenciacao entre protestantismo «tradicional», pentecostais clássicos, carismáticas, e grupos pertenecentes ao pentecostalismo autonomo. (9)



Problemas como ausencia de pesquisa de campo, falta de uma metodologia criteriosa, carencia de embasamento teórico, comprometan muitas das conclusoes apresentadas, que acabam por repetir determinadas afirmacoies que permeiam a pouca bibliografía disponíbel. Faltam, inclusive, pesquisas quanto a reflexao teológica dsses movimentos. Um outro problema a ser apontado é o das generalizacoes, é frequente encontrarse trabalhos nos quais o autor estuda apenas um movimento, num determinado local, e depois generaliza suas conclusoes para todo o «universo pentecostal», contribuindo para aumentar a confusao já existente nesse campo.



Ultimamente estao sendo realizados estudios e artigos muito bons, tanto nas universidades (exemplo Universidade de Sao Paulo, Instituto Ecumenico de Pós-Graduacao) como algumas instituicoes de pesquisa (ex. Koinonia, ISER). Esses estudos precisariam ser incrementados e serem objeto de uma divulgacao mais ampla.



Quadro Nº 1


PRODUCAO BIBLIOGRAFICA SOBRE O PROTESTANTISMO NO BRASIL





Período




Características




antes dos
anos 30




producao apologética e triunfalista


pesquisadores - em geral pastores e missionários


algumas obras de pioneiros da sociología brasileira





dos anos 30
aos 50




primeiros trabalhos de cunho sociológico, mais interpretativos


pesquisadores- em geral estrangeiros (Ex. Emile Leonard - O protestantismo brasileiro.



anos 60 e 70




producao, nas universidades, sobre sociología da religiao.


Características: refletem o momento histórico vivido na época / salientam o caráter alienante das religioes / preocupacao com o potencial revolucionário do povo.


pesquisadores- cientistas sociais brasileiros, muitos deles de tradicao protestante (Ex. Antonio G. Mendonca - O celeste porvir»)




fins dos anos70 e início dos 80




O protestantismo ganha espaco como objeto de estudo dentro das ciencias sociais, preocupacao como o crescimiento do o pentecostalismo


pesquisadores- cientistas socias brasileiros nao
diretamente ligaso á Igreja (Ex. Regina Novaes – Os escolhidos de Deus.)





fins dos anos 80 e inicio dos 90




Crescimento do pentecostalismo, em especial do neo-pentecostalismo passa a ser objeto de estudos, tanto de pesquisadores brasileiros como de estrangeiros. (ex. artigos e teses em andamento sobre a “Igreja Universal do Reino de Deus”).





De forma geral, quanto ao pentecostalismo autonomo, o grande público nao consegue diferenciá-los do restante do protestantismo (afinal nao sao católicos, nem espíritas nem afros); as Igrejas protestantes tradicionais nao querem ser confundidas como esses movimentos, mas também nao os distingue do pentecostalismo clássico e este, por sua vez, parece nao está preocupado em dar satisfacoes à ninguém.



MOVIMIENTO PENTECOSTAL NO BRASIL: RETROSPECTO HISTORICO



A introducao do protestantismo no Brasil, e posteriormente o aparecimento do pentecostalismo encontram-se inseridos numa conjuntura histórica mais ampla. Num rápido retrospecto histórico vemos que o Brasil foi marcado pela colonizacao portuguesa, que trouxe para seu território uma cultura ibérica marcada pelo catolicismo tridentino. A religiao católica foi a única permitida no país até inícios do século XIX, quando a liberdade religiosa foi permitida devido a interesses políticos. (10).



No século XIX ocorreu a chamada «Expansao Protestante» (1814- 1914) que é vista como fruto do expansionismo do campitalismo europeu, que acompanhou a segunda expansao colonialista (partilha da Africa, independencia da América Latina que sai da órbita ibérica e entra na da Inglaterra). A partir da segunda metade do século XIX, chegaram os primeiros missionários protestantes ao Brasil. Esses faziam parte da chamada «Missao civilizatória» que visava implantar de um novo modelo socio-político-economico-religioso (destino manifesto).



Importantes modificacoes ocorreram no início do século XX. Ao se analisar o campo religioso brasileiro, e mesmo latinoamericano, veremos que as modificacoes ocorridas oincidem como as alteracoes do quadro histórico decorrente da 1ra. Guerra Mundial (dificultades de comunicaco afrouxam os lacos com a Europa, aprecem outras prioridades, etc). No Brasil temos o surgimento dos primeiros movimentos pentecostais, em 1910 com a Congregacao Crista no Brasil e em 1911 com a Assembléia de Deus.



PENTECOSTALISMO CLASSICO



Num primerioro momento o pentecostalismo aparece como uma variante do protestantismo, porém mais próxima das manifestacoes populares, algo como um Protestantismo nacional. As duas principais igrejas que compoem o pentecostalismo clássico sao a Congregacao Crista no Brasil e a Assembléia de Deus. E interessante destacar que esses dois movimentos tiveram origem de um núcleo comum: Chicago. (11).



Assembléia de Deus. Foi fundada, em 1911, pelos suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren. Berg, foi frequentava a igreja Batista de Chicago W.H. de Durham, veio para o Brasil como missionário em uma igreja Batista em Belém do Pará que, após a cisao deu origem às Assembléia de Deus. Comecou no norte, nordeste e depois é que foi para o sul. A pesar de se grande crescimento nos centros urbanos também tem se alstrado pelas zonas rurais. A maioria de seus adeptos provem das camadas populares.



A teologia é conversionista e possui atividades prosilitistas. Possui sua própria casa publicadora, edita livros, revista e o jornal «Mensageiro da Paz». Possui institutos bíblicos destinado ao preparo da lideranca.



Nos últimos tempos tem se preocupado com sua representacao política num primerio momento apoiava candidatos depois passou a indicar pessoas dentro de mebros. O grande número de fiéis tem permitido a eleicao de grande número de vereadores e deputados, possui ainda uma senadora. (12)



Congregacao Crista No Brasil. Pode ser considerada uma igreja brasileira. Foi fundada, em 1910 por um estrangeiro, Luigi Francescon, que nao era missionário e nem era sustentado por uma instituicao do exterior. Fransciscon, italiano emigrado para os Estados Unidos, pertencia á Igreja Presbiteriana italiana de Chicago e teve contatos como a igreja batista de Durham. Por revelacao viajou para o Brasil, indo primeiro para o Paraná, cidade de Santo Antonio da Platina, e depois para a cidade de Sao Paulo que funcionou como foco irradiador do movimento. Sua expansao é a partir do Brasil para o exterior, no inicio o chamava-se Congregacao Crista do Brasil, o nome sofreu alteracao quando de sua expansao internacional.



Crena predestinacao. Nao tem cultos ao ar livre, nao imprime folhetos, nao tem programas de radio ou televisao e nao faz campanhas evangelisticas que aliás sao prohibidas Nao fax apelos à conversao. Seus membros crem que só os verdadiramente chamados permanecem (nesse ponto sao presbiterianos ortodoxos).



Existe uniformidade doutrinária que é mantida através de assembléais anuais, onde é reunidos o corpo sacerdotal (anciaes, cooperadores e diáconos) por tres días. A princípio estas eram realizadas apenas na cidade de Sao Paulo, porém o número de pessoas fez como que tivessem que ser regionalizadas. Atualmente acontecem em cinco locais diferente do país (norte, nordeste, centro-oeste, sudeste e sul). Mantémuma cultural oral, nao tem publicacòes (só o relatório anual), nao recomenda a leitura de literatura específica, sómente e a Biblia.



Nao existe cobranca de dízimo e nenhum cargo é remunerado. O resultado das colets realizadas mensalmente é dirigido para construcao de tempos, obras de caridades e viagens missionárias. Entretanto nao é a direcao da igreja que decide o percentual de valores a ser empregado em cada um dos íntens, mas o próprio fiél que, queando dá sua oferta, indica onde quer que seja empregado.



A Congegacao nao paticipa de atividades políticas e nao indica cadidatos.


A administracao material é centralizada, em grandes polos regionais e praticamente inexiste autonomía das congregacoes locais. Nao se sabe o número de membros poios nao há estatística a respeito. Se crscimento pode ser dimensionado através do número de construcao de templos, que na cidade de Sao Paulo tem correspondido a uma média de 1.3 por mes. Desde a data de sua fundacao nao apresentou discidencia.



PENTECOSTALISMO AUTONOMO



A proliferacao desse movimento no Brasil é tao grande que se torna difícil a elaboracao de um levantamento dada a diversidade e efemeridade de muitas das denominacoes surgidas. Aquí tem-se uma questao teórica: seriam realmente pentecostais todas las denominacoes alternativas geralmente chamadas «pentecostais»? Verifica-se que, na realidade, sao designadas pentecostais por exclusao às Igrejas históricas e pela prática da cura divina. De acordo com Mendonca (1990, p. 46), esses grupos deveriam ser chamados de «agencias de cura divina» uma vez que nao apresentam características de igreja. (13) Nao possuem corpo de fiéis fixo, mas uma populacao flutuante à qual prestam servico religioso mediante contribuicao do beneficiado (Mendonca, 1990).



Esse movimento é extremamente heterogeneo, tem-se desde pequenos grupos básicamente familiares, como tem-se, por exemplo na regiao Liberdade em Sao Paulo, (14) até conglomerados gigantestos como o da Igreja Pentecostal «Deus é Amor» de David Miranda (15) ou como a Igreja Universal do REino de Deus, fez con que se centrassem nela os olhos da sociedade em geral e do mundo evangélico em particular, a ponto d eofuscar o restante. O sucesso «religioso» e financeiro, o fato dela se utilizar de numerosas rádios e possuir seu próprio canal de televisao magnetiza os olhares e provoca arrepios em campos diversos, desde o das igrejas até o formado pelo mundo das comunicaoes.



Nao importnado o tamanho, todas tem em comum uma estrutura empresarial onde bens simbólicos sao comercializados. Nestas, a cura, o milagre é o fim.



O fenomeno da proliferacao de diferentes seitas desafiam todos aqueles que se preocupam como a compreensao do campo religioso brasileiro. Questoes que sao colocadas pelas ciencias sociais permanecem ainda semp resposta. Quem sao e por que as pessoas procuram esses movimentos. A evasao de fiéis tem sido preocupacao constante das igrejas tradicionais, que buscam responstas èa esse fenómeno. A ponto da igreja católica ter encomendado uma pesquisa que lhe fornecessse informacoes e dados sólidos para que pudesse tracar seus novos rumos (1&) Essasituacao é colocada claramente pelo autor da pesquisa:



El rápido avance de grupos y movimentos religiosos desconocidos hasta hace pocos años se ha convertido en un desafío para la Iglesia Católica (...). En América Latina (... desde varios años se calcula fundadamente que esta «sangría» continúa en un ritmo de al menos diez mil personas por día (...) los obispos, párrocos y demás orientadores (...) se sienten perplejos, desconcertados, y tocan a todas las puertas en busca de orientación...» (17).



Atribui-se o sucesso desses movimento à uma série de fatores, tais como: à sua flexibilidade, sua capacidade de ajustamento às diferentes situacoes do cotidiano, às estruturas organizacionais simples que permitem a participacao do fiél, á capacidade de oferecer entido de reorganizacao de vida, etc. A situacao de crise vivida pela Brasil, em especial nas última décadas, o empobrecimento dos estratos médios da populacao, o aumento da massa de miseráveis, a crise no sistema de saúde, também sao apontados como causasprováveis que estariam contribuindo para o crescimento desses movimentos que serviria como uma espécie de íma para a massa desesperada em busca de um mínimo de condicoes que lhe permitisse a sobrevivencia, tal como saúde e emprego.