Teólogo Ariovaldo Ramos faz reflexão sobre o tema
Para responder esta pergunta, temos de considerar dois fatores: a colheita e o avivamento. São dois fenômenos produzidos pelo Espírito Santo, porém, diferentes entre si.
A colheita é o trabalho do Espírito Santo na sociedade ao redor da igreja. Ela é retratada na conversa entre Jesus e a mulher de Samaria. Lá, percebe-se que a mulher está em crise com sua religião e está, também, inquieta em relação a Deus e ao sentido da vida. E o que acontece com ela também acontece com a comunidade de samaritanos que ela traz a Cristo: todos são levados à conversão. Isso é colheita, quando o Espírito Santo desperta fora da igreja perguntas sobre a validade de sua religião, sobre o sentido da vida e sobre Deus – como encontrá-lo, como viver com ele e como entender a sua vontade.
O outro é o fenômeno do avivamento. O avivamento também é uma ação do Espírito Santo, mas acontece dentro da igreja. É a ação do Espírito Santo trazendo a igreja de volta ao primeiro amor. Ele é retratado no ministério de João Batista, principalmente em Lucas 3:1-3. Ali, vê-se o Espírito Santo mobilizando o povo, trazendo gente de todo o Israel para ser batizada, ou seja, trazendo as pessoas de volta ao primeiro amor, levando-as à consciência do pecado da quebra da lei, de terem perdido sua identidade e da necessidade de voltarem a viver segundo a vontade de Deus. Isso é avivamento. Acontece dentro da comunidade da fé, para que ela retorne ao primeiro amor.
Quando olho para a América Latina, vejo a presença de um e a carência do outro. Vejo uma colheita em curso. O Espírito Santo está falando com toda a América Latina – com sua sociedade, seu povo -, levando-a a uma consciência da necessidade de Deus, a uma sede de Deus. Em todos os cantos, pessoas perguntam sobre o sentido da vida e sobre Deus; querem saber qual a mensagem de Jesus e como ele dever ser compreendido. Isso é colheita. Entretanto, tenho sentido em toda a América Latina, em especial no Brasil, a carência de avivamento. Isso é lamentável em determinado aspecto, porque só precisa de avivamento quem perdeu o primeiro amor. Na minha opinião, foi isto mesmo que aconteceu conosco. Abandonamos o primeiro amor. Eu diria que estamos em uma situação ainda mais grave do que a situação de Éfeso, que havia perdido o primeiro amor, mas não havia perdido a doutrina. Estamos mais para Laodiceia. Perdemos o primeiro amor, o foco, o ensino evangélico, e estamos apaixonados pelo poder, pelo dinheiro, pela ostentação, pelo luxo. A igreja latino-americana está se tornando uma igreja rica, porém inoperante. Foi assim que Laodiceia, julgando-se rica e abastada, foi declarada pobre, miserável e nua.
Estamos numa encruzilhada e tudo vai depender da solução desse impasse. Se houver avivamento, vamos fazer uma colheita de qualidade. Hoje estamos colhendo da pior forma possível os frutos que o Espírito Santo amadureceu, pois estamos trazendo-os para serem abençoados por Deus e não para serem tornados benção pela graça de Deus. Se isso não se resolver, levaremos essas pessoas a um falso cristianismo e, consequentemente, à frustração, que pode gerar uma apostasia secular, como assistimos na Europa, ou uma migração para uma fé anticristã, como o Islã. Estamos num momento crítico. Precisamos levantar um clamor a Deus, precisamos que ele tenha piedade de nós e nos mande o avivamento para que a colheita seja de qualidade e para que tenhamos um longo e frutífero caminho.
Minha resposta, então é: talvez sim, talvez não. Vai depender de nós. Que Deus (Pai, Filho e Espírito Santo) se compadeça de nós, se compadeça da igreja que está na América Latina e promova um grande avivamento antes que o Senhor da Igreja mova o candeeiro.
Fonte: Revista Ultimato
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